O TST e a ferramenta "Bem-Te-Vi":
uma ameaça à jurisdição?
Resumo
O presente trabalho analisa os possíveis impactos negativos a garantias constitucionais e processuais que a ferramenta de inteligência artificial "Bem-Te-Vi", adotada pelo Tribunal Superior do Trabalho, pode operar dentro da atuação jurisdicional, notadamente no que diz respeito à inafastabilidade do controle jurisdicional, ao devido processo legal e ao dever de motivação das decisões judiciais, se os algoritmos que alimenta-na forem utilizados para incorporação de decisões automatizadas ou passem a ser protagonistas no apoio à tomada de decisão. Assim, buscou-se responder o seguinte problema: os algoritmos que alimentam a inteligência artificial do TST representam uma ameaça para a correta prestação jurisdicional da Corte, na medida em que há possibilidade de uso da ferramenta para tomada de decisões e decisões automatizadas? Para isso, a metodologia utilizada foi revisão bibliográfica com fundamentação teórica dialética, posto que o direcionamento da pesquisa contrapõe premissas que buscam ajuste institucional. Como conclusão, obteve-se que a ferramenta ainda se encontra num período de latência, de modo que os seus possíveis impactos negativos ficam situados apenas no campo da advertência, ao mesmo tempo em que a opacidade ameaça se tornar um novo paradigma jurisdicional.
Referências
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. SEPJD – Secretaria de Pesquisa Judiciária: Bem-Te-Vi. [Brasília]. TST, [2024?]. Disponível em: <https://tst.jus.br/web/sepjd/bem-te-vi>. Acesso em: 05 de setembro de 2024.
BRASIL. Justiça do Trabalho. Conselho Superior da Justiça do Trabalho: Notícias. [Brasília]. CSJT, 2020. Disponível em: <https://www.csjt.jus.br/web/csjt/-/tst-concorre-ao-prêmio-innovare-2020-com-o-sistema-bem-te-vi>. Acesso em: 05 de setembro de 2024.
GERAIGE NETO, Zaiden. O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional: art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
HEIDEGGER, Martin. A questão da técnica. In: Ensaios e conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvam Fogel e Márcia de Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002.
MORAIS, José Luis Bolzan de; MAFRA, Lígia Kunzendorff. Inteligência artificial em decisões judiciais: opacidade versus garantias processuais. Novos Estudos Jurídicos, Itajaí, v. 28, n. 3, p. 516-535, 2023.
PASQUALE, Frank. The Black Box Society. Cambridge: Harvard University Press, 2015.
RISSANEN, Jorma. A universal data compression system. In: IEEE Transactions On Information Theory, v. 29, n. 5, p. 656-664, set. de 1983.
TOLEDO, Claudia; PESSOA, Daniel. O uso de inteligência artificial na tomada de decisão judicial. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 10, n. 1, e237, jan./abr. de 2023.